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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Temos de abrir o coração', diz pai de vítima da Kiss que quer adotar bebê


Léo Becker perdeu Érika no incêndio e busca maneiras de recomeçar.
Incêndio em casa noturna de Santa Maria deixou 242 vítimas em 2013.


Do G1 RS


 
Léo Becker pretende adotar uma criança depois que perdeu Érika na tragédia da Kiss (Foto: Arquivo Pessoal)Léo Becker pretende adotar uma criança depois de perder Érika na tragédia da Kiss (Foto: Arquivo Pessoal)
Sem medo de recomeçar, Léo Carlos Becker faz planos para adotar uma criança após a morte da única filha na tragédia da boate Kiss, em Santa Maria. Érika tinha 22 anos e estudava agronomia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ainda de luto, o pai deseja dar amor também a outra pessoa, ideia que amadurece ao lado da mulher, Mauren. O incêndio, que completa sete meses nesta terça-feira (27), matou 242 pessoas.
Desde a morte da jovem, Léo divide o dia entre o emprego em uma concessionária da cidade e o trabalho voluntário na Associação de Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Enquanto isso, Mauren se dedica a visitar e dar carinho a crianças com câncer em um hospital do município.
“Meus investimentos sempre foram pensando na Érika. Ia no mercado e comprava primeiro as coisas dela”, contou Léo ao G1.
Erika Becker era filha única de Léo Becker (Foto: Arquivo Pessoal)Érika Becker era filha única de Léo Becker
(Foto: Arquivo Pessoal)
Sem a única filha, o casal pensa no sonho de poder preencher a casa novamente. O fato de ter apenas um filho foi escolha da própria Érika. “Deixamos para um segundo momento e quando perguntamos, ela não queria ter um irmão. Então nunca tivemos”, comentou.
A ideia é cuidar de um bebê, mas o casal não fecha as portas para o destino. “Queremos recomeçar. Eu sei que esta criança vai surgir. Temos que abrir o coração”, completa.
Mesmo sete meses depois da tragédia, Léo revela que ainda é difícil mexer nos pertences da filha, embora saiba que a chegada de um filho adotivo determinaria uma reforma na casa no bairro Nossa Senhora das Dores. “Ainda é um sonho, uma ideia para o próximo ano. Vamos esperar esse ano passar”.
Como uma relíquia entre os objetos que Érika deixou como lembrança, os pais guardam a bolsa que ela utilizava na festa na casa noturna. “Alguém encontrou e nos entregou. As botas que ela usava no curso de Agronomia também são especiais. Um casaco demos para uma amiga que pediu”, lembra Léo.
O nome do novo filho permanecerá o mesmo dado pelos pais de sangue. Segundo Léo, todo filho é especial para os pais, independente das circunstâncias. “A Érika era muito especial, única”, lamenta.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo, dia 27 de janeiro, resultou em 242 mortes. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco.
O inquérito policial indiciou 16 pessoas criminalmente e responsabilizou outras 12. Já o MP denunciou oito pessoas, sendo quatro por homicídio, duas por fraude processual e duas por falso testemunho. A Justiça aceitou a denúncia. Com isso, os envolvidos no caso viram réus e serão julgados. Dois proprietários da casa noturna e dois integrantes da banda foram presos nos dias seguintes à tragédia, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em 29 de maio.
Veja as conclusões da investigação
- O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso no palco
- As faíscas atingiram a espuma do teto e deram início ao fogo
- O extintor de incêndio do lado do palco não funcionou
- A Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás
- Havia superlotação no dia da tragédia, com no mínimo 864 pessoas
- A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular
- As grades de contenção (guarda-corpos) obstruíram a saída de vítimas
- A casa noturna tinha apenas uma porta de entrada e saída
- Não havia rotas adequadas e sinalizadas de saída em casos de emergência
- As portas tinham menos unidades de passagem do que o necessário
- Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas

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